Na época da ditadura, a cultura estava enfervescente... os poetas, repudiando aquele tipo de dominação... fazia a poesia ter um gosto a mais... além da beleza de ler... ousadia em protestar...
...
Sobre a cabeça os aviões sob os meus pés os caminhões aponta contra os chapadões meu nariz
Eu organizo o movimento eu oriento o carnaval eu inauguro o monumento no planalto central do país
Viva a bossa sa sa viva a palhoça ça ça ça ça
o monumento é de papel crepom e prata os olhos verdes da mulata a cabeleira esconde atrás da verde mata o luar do sertão
o monumento não tem porta a entrada é uma rua antiga estreita e torta e no joelho uma criança sorridente feia e morta estende a mão
viva a mata ta ta viva a mulata ta ta ta ta
no pátio interno há uma piscina com água azul de amaralina coqueiro fala e brisa nordestina e faróis
Na mão direita tem uma roseira autenticando eterna primavera e nos jardins os urubus passeiam a tarde inteira entre os girassóis
viva maria iá iá viva a bahia iá iá iá iá
no pulso esquerdo o bang-bang em suas veias corre muito pouco sangue mas seu coração balança a um samba de tamborim
emite acordes dissonantes pelos cinco mil alto-falantes senhoras e senhores ele põe os olhos grandes sobre mim
viva iracema ma ma viva ipanema ma ma ma ma
domingo é o fino da bossa segunda-feira está na fossa terça-feira vai à roça porém
o monumento é bem moderno não disse nada do modelo do meu terno que tudo mais vá pro inferno meu bem
viva a banda da da carmem miranda da da da da
Caetano Veloso
domingo, 15 de julho de 2007
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Um comentário:
Nós vamos, já estamos e seremos! Viva o futuro! Vlwsss, meu grande John!!!
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