quinta-feira, 25 de outubro de 2007

Hoje, amanhã e depois(?)

ONTEM
Quando pensei n'O Tem Azul imaginei um veículo das maravilhas, e numa talvez doce ilusão acreditei que tudo fosse, com a licença do clichê, dirigir-se bem, com o mínimo de problemas. Convidando algumas pessoas que pensei serem afins à idéia que havia formatado em minha cabeça, algo que considerava fantástico, mesmo não tendo animais nem flores verborrágicas; pois bem, as coisas não andaram da forma esperada, na verdade acho que andar ainda é um verbo bastante bondoso, pois pra mim foi um desagradável arrastamento que ia arruinando quaisquer expectativas anteriormente criadas. Desencantei. Pensei que talvez a idéia não tivesse sido das melhores pra alguns, uma vez que as pessoas estão de fato cada vez mais ensimesmadas e preocupadas com o que diretamente lhes atingem - o que hoje em dia é necessário de certa forma, concordo - e para não continuar me achando um sonhador quase intrusivo decidi permanecer em meu vagão só, apenas observando a paisagem distante que se apresentava e fugia de meu alcance.

HOJE
Qual não foi a surpresa quando recebi mensagens de alguns passageiros que andaram meio perdidos do Trem (assim como eu) que me cobravam ou me faziam recordar de um início que nunca houve de fato. Isso me deu força pra sair de minha cabine e passear, mesmo que com certa dificuldade, pelas outras tocando a sineta que dá o aviso da ressurreição, do retorno. Pois é, pessoal, talvez um pouco mais amadurecido pelos acontecimentos e sabendo que as coisas nunca são como antes (pois lembro que algum filósofo já disse que um rio nunca passa duas vezes pelo mesmo lugar) venho por meio desta perguntar quem deseja voltar a apostar na idéia de um grupo que fale o que os outros não têm interesse ou oportunidade de ver, de discutir assuntos que tragam algo de construtivo pra si e pro outro e que faça o mais importante: promova um encontro de pessoas que ainda acreditam e desejam ver o Sol.

AMANHÃ
?

==========================

Amanhã realmente não sei o que vai acontecer, mas pensemos nele como promessa.
Gostaria de saber como ficará nossa situação. Proponho que nos encontremos num final de semana, comum a todos para começarmos as discussões; minha cabeça está fervilhando de idéias como um vulcão latente. Quero entrar em ebulição.

sábado, 4 de agosto de 2007

Coisas que a gente se esquece de dizer...

Não quero esquecer de dizer que foi um dia muito interessante, atípico: foi preocupante, nervoso, frustrante, mas tão rico, esclarecedor, engraçado e único, como o número um, o de nossa reunião.

Alguns não estiveram presentes, mas os que foram conseguiram preencher o momento e tivemos um fim de tarde realmente bom. Gostei, conversamos sobre alguns pontos, chegamos a resoluções. Foi tudo muito legal e, o melhor, produtivo. Entendemos o porquê de "O Trem Azul", fomos quase expulsos pelos serventes do shóps e até deu problema em meu cartão!!! Um comédia!!


Agradeço aos que foram, por terem transformado um dia chuvoso e gris em uma novidade... O sol na cabeça, lembrem-se sempre! Abração!
A meus amigos:

Eu e o Trem Azul

Tudo o que ainda há de vir
É tão pequeno quando se quer unir
A pergunta surge
Alguém às vezes a responde

Mas com um sol na cabeça
Uma folha jovem na mão
Olho no ar uma pena
E tudo se perde na imensidão

Nesta cena passa a nuvem
Passa a montanha, corre o trem
No espelho sou o que fica
Eu e minha imaginação tão rica

Achando-me um bobo desde então
Iludido num mundo cru
num banco de estação
ainda esperando pelo Trem Azul

Pablo

domingo, 15 de julho de 2007

Eu vou! por que não?

Na época da ditadura, a cultura estava enfervescente... os poetas, repudiando aquele tipo de dominação... fazia a poesia ter um gosto a mais... além da beleza de ler... ousadia em protestar...

...


Sobre a cabeça os aviões sob os meus pés os caminhões aponta contra os chapadões meu nariz
Eu organizo o movimento eu oriento o carnaval eu inauguro o monumento no planalto central do país
Viva a bossa sa sa viva a palhoça ça ça ça ça
o monumento é de papel crepom e prata os olhos verdes da mulata a cabeleira esconde atrás da verde mata o luar do sertão
o monumento não tem porta a entrada é uma rua antiga estreita e torta e no joelho uma criança sorridente feia e morta estende a mão
viva a mata ta ta viva a mulata ta ta ta ta
no pátio interno há uma piscina com água azul de amaralina coqueiro fala e brisa nordestina e faróis
Na mão direita tem uma roseira autenticando eterna primavera e nos jardins os urubus passeiam a tarde inteira entre os girassóis
viva maria iá iá viva a bahia iá iá iá iá
no pulso esquerdo o bang-bang em suas veias corre muito pouco sangue mas seu coração balança a um samba de tamborim
emite acordes dissonantes pelos cinco mil alto-falantes senhoras e senhores ele põe os olhos grandes sobre mim
viva iracema ma ma viva ipanema ma ma ma ma
domingo é o fino da bossa segunda-feira está na fossa terça-feira vai à roça porém
o monumento é bem moderno não disse nada do modelo do meu terno que tudo mais vá pro inferno meu bem
viva a banda da da carmem miranda da da da da
Caetano Veloso

terça-feira, 10 de julho de 2007

Bem vindos aO Trem Azul!

O Trem Azul

Texto explicativo

(Lô Borges e Ronaldo Bastos)

Coisas que a gente se esquece de dizer
Frases que o vento vem às vezes me lembrar
Coisas que ficaram muito tempo por dizer
Na canção do vento não se cansam de voar

Você pega o trem azul
O sol na cabeça
O sol pega o trem azul
Você na cabeça
O sol na cabeça

INÍCIO

Vivemos numa sociedade bastante diversificada. Nós, brasileiros, somos exemplos vivos da mistura expressa através da miscigenação, dos falares, das músicas etc., possuímos um arcabouço imenso de cultura e, no entanto, o que vemos é uma pasteurização do real poder do povo do Brasil: há um esforço contínuo e velado em subjugar e subestimar a maior parte possível da população promovendo o não-conhecimento de nossa raça, raiz, e mormente de cultura, ou seja tudo o que faz com que um povo possa ser livre para fazer suas escolhas. O que vemos são diversos discursos extremistas que falam disfarçadamente “ou você está conosco ou não vemos que você existe” permeados de pensamentos vazios e estéreis. No nosso nordeste a coisa não é diferente, a valorização extrema de temas que transformam a vida numa ação previsível é desconcertante.

Tendo em vista isso, sem a utilização de bandeiras políticas ou ideológicas (muito importante que se diga e que se saiba), nasceu a intenção de promover um grupo fechado no qual jovens discutam temas que enriqueçam o indivíduo em prol de um bem futuro para si e, conseqüentemente, para sua nação. Este tipo de ação é muito interessante, um espaço de discussão cujo objetivo é o conhecimento e a cultura.

PRA FICAR AZUL

Uma forte justificativa foi citada no início: as diversas tentativas de anulação sofridas imperceptivelmente por nós nordestinos e brasileiros. As outras serão colocadas de acordo com as discussões do grupo, mas o mais importante é desde já travar um combate limpo contra um inimigo que é o pior de todos, que não tem um nome, não tem um rosto e não é palpável: o desânimo. Nós jovens nos encontramos num momento de estagnação tremenda, somos filhos de revoluções, de pessoas que lutaram física e intelectualmente para que chegássemos a um estado melhor que os deles naqueles determinados momentos; assim já não há mais a vontade de “brigar” de reagir e a acomodação é geral. Sem saber, estamos alimentando algo que não se sabe bem o que é, mas que um dia vai nos engolir. O que é o mais perigoso: os revolucionários lutavam contra os ditadores, ricos aproveitadores e usureiros, ou seja, contra algo que tinha face, e nós? Contra quem lutamos?

O TREM

Para isso é que o Trem deve aparecer, se mostrar e levar os jovens que queiram fazer a diferença nele. A arma para reverter a aniquilação é o conhecimento e ele deve ser premissa na vida de uma pessoa. Já não se pode mais aceitar gente que se abate facilmente, a melhor revolução em tempos atuais é a informação e que ela se dê através da leitura, da música e da poesia, das “coisas que esquecemos de dizer”, das “frases que o vento vem nos lembrar” transformemos essa insatisfação pessoal num produto útil a todos aqueles que sentem o mesmo e que não conseguem se expressar: criemos O Trem Azul, uma irmandade de conhecimento e liberdade alicerçada na leitura, na música e na poesia. Vamos dar a partida e sair de nossas cabines visitando os vários vagões que compõem esse trem, vamos repensar o presente, nos confundir com o bom passado e vislumbrar um possível futuro. Visitemos os vagões onde nos esperam revolucionários e revoluções; sejamos como os modernistas antropófagos e comamos tudo o que está aí, ruminando, engolindo, processando e regurgitando o útil a nós, visitemos os mangueboys e espelhados neles dêmos valor a nossa própria raiz e a misturemos com o novo a fim de criar um produto ímpar; gritemos com os tropicalistas as delícias de nossa terra e transformemos tudo isso em poesia pungente e suavizemos tudo isso como fizeram o Clube da Esquina com o lirismo que une a juventude num motivo que mesmo com várias tentativas de escamoteação ainda resiste pulsante em cada um de nós. Embarque nesse Trem; aceite essa viagem com o sol na cabeça.

“O sol é tão bonito...

Eu vou... Por que não?

Por que não?”

(Caetano Veloso)[1]

O Passageiro Azul



[1] Em “Alegria, alegria”